Conversando
com uma amiga em certa ocasião sobre nossa infância, ela lançou: “acredita que
ainda trago em minhas memórias o tempo em que, sem a tecnologia dos computadores
e outras opções éramos inventores de coisas”. Então comecei a pensar em nossas
memórias, capacidade de registrar, armazenar, recuperar e manipular
informações, num conceito bem simplista. Todavia os verbos que trago para
ilustrar numa definição básica de memória são, em minha opinião, fundamentais para
falarmos também de tantas Ciências que retratam nossas histórias de vida.
Vejam só, utilizando de minhas memórias, recuperando
lembranças que armazenei me recordo do quanto tive que por vezes, quando
criança, viver as lições de Economia, de Psicologia, de Sociologia, de
Filosofia e outras, sem saber que estas Ciências existiam, era a mente criativa
que estava buscando soluções para a estreiteza dos caminhos que trilhei, com
dificuldade e superação, o que foi me fazendo um sujeito inventivo.
Pessoas inventivas nem sempre são bem aceitas nos espaços
sociais, por vezes são vistas como perigosas, criam demais, enxergam demais,
opinam demais, “ciscam” demais, disto eu sei, mas onde esconder os meninos e
meninas inventivas, sim à geração que prospera neste tempo histórico é uma
geração inventiva, curiosa por saber o que não se sabe.
A pessoa inventiva tem características carregadas de pura
invenção, “nada é impossível de ser criado”, são pessoas que por natureza
desacomodam, tiram do lugar, pensam sobre aquilo que já foi pensado, e
convenhamos isto deve dar um trabalhão para quem “vive de poeira”, aliás,
poeira me lembra a imensa varanda de minha avó, um bom lugar para quem gosta de
se acomodar, varandas, com muita poeira.
Por fim, gosto de ser inventivo, mesmo sabendo do quanto ser
inventivo é assumir riscos, é na incompletude de minhas trajetórias sinalizar
aquilo que ainda pode ser feito, melhorar-me, aprimorar meu olhar, ver o doce e
o azedo das coisas, das situações, e para aqueles que estão nas varandas
empoeiradas que se consolem com meu alerta: há uma geração inventiva chegando
por aí, aparelhada para usar de suas memórias inventivas, fica claro então que
é o início de mais um novo ciclo que irá adentrar as imensas varandas.
Obs.: Este texto ofertei ao meu grande amigo Márcio Brasil tendo em vista o respeito e a admiração que tenho por esta pessoa singular.