Inicio minha reflexão carregado
de dor ao relatar o que sempre esteve constatado, porém de forma velada,
coberta com discursos de piedade e de descartabilidade. Esta semana conversava
com uma querida amiga de longa data, pessoa competente, empenhada em suas
tarefas profissionais e de um caráter inquestionável, há ia esquecer sua
condição: desempregada. Assumidamente negra! Chorando me disse estar cansada,
esmorecida, foram muitos “nãos”, sem entender direito forcei: não entendo? E
venho à triste e penosa revelação por mim já constatada há anos, diz ela: “formação
tenho, vontade de trabalhar tenho, postura profissional tenho, disponibilidade
de horários tenho, e foram muitos “tenho” a única coisa que não tenho é a pele
branca. Não consigo nem ser entrevistada e as respostas vão desde vamos
analisar teu currículo até nós procuramos outro tipo de pessoa. ”De imediato me
coloquei no lugar da “amiga de cor negra” e fiquei a pensar: hoje temos as cotas
para a pessoa portadora de deficiência e por isso algumas instituições correm
como “bala de canhão” atrás de pessoas que se enquadrem nas cotas para “dar
conta” da legislação. Minha pergunta é como ficam os demais que não se
enquadram, por condição, na caixa mental que nós mesmos criamos? Mais cotas,
para negros, homossexuais e sabe se lá quem mais, estou indignado, e enviei
pessoalmente à autoridade de mídia a situação horrorosa que vivemos na Cidade
que temos a coragem de chamar de Educadora: educadora da diversidade também?
Empresários, instituições constituídas, cuidado e um apelo: abram a mente,
pulem fora do barco da hipocrisia, aprendam a superar a mentalidade moralista
que pulsa num comportamento que exclui e alerta porque tenho a impressão que
mais cotas virão por aí se não houver o respeito à dignidade humana. Bom e
quanto a essa querida pérola negra, ajudei na mudança esta semana, teve que ir
embora para poder inserir-se no mercado de trabalho e para uma cidade bem menor
que a nossa em tamanho geográfico, mas enorme em acolhimento as diferenças.
Meus sentimentos a esta amiga e meu registro envergonhado de saber que
abandonou nossa Santiago porque não nasceu branca.
Que fiquem as reflexões, a de mais
meu luto!
Prof. Esp. Rodrigo
Dalosto Smolareck